quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Linhas Gerais do Pensamento Crítico

(Grande parte das informasções aqui contidas tem como referência o site http://www.projetoockham.org/ferramentas_critico_1.html )


Como separar as boas informações? Como saber se deve acraditar ou não na informação que acabou de lhe ser passada? Como verificar?
Uma série de passos, através de um algoritmo, pode lhe dar grandes chances de acertar.

por William Graham Sunmer (1906):

"[Pensamento crítico]...é a análise e o teste de proposições de qualquer tipo que nos são oferecidas, de forma a descobrir se elas correspondem à realidade ou não. É um hábito e um poder mental. É uma condição primária para o bem da sociedade que homens e mulheres sejam treinados nele. É a nossa única garantia contra a ilusão, enganação, superstição e incompreensão de nós mesmos e de nossas circunstâncias mundanas. Nossa educação é boa na medida em que ela produz uma bem desenvolvida capacidade crítica... A educação na capacidade crítica é a única educação da qual pode-se verdadeiramente dizer que forma bons cidadãos."


Neste capítulo falarei sobre o método em si, e o que devemos fazer para nos treinar e para nos aprimorarmos neste sentido.

Algumas definições de verdadeiro versus falso: 

  • Proposição: uma proposição é uma sentença que pode ser verdadeira ou falsa. Por exemplo, "os homens são mortais" é uma proposição verdadeira. A validade (ou falsidade) de uma proposição pode variar com o contexto. Por exemplo, "os homens vivem, em média, menos que as mulheres" é uma proposição que pode ser verdadeira ou não, de acordo com o local e época da qual estamos falando.
  • Argumento: um argumento é uma seqüência de proposições, que pode ser dividida em suas premissas e sua conclusão. As premissas constituem o ponto de partida, a base a partir da qual se chega à conclusão. Se a conclusão realmente é uma conseqüência lógica das premissas, o argumento é dito válido. Isto equivale a dizer que se as premissas são verdadeiras, a conclusão necessariamente também será verdadeira. Por outro lado, pode acontecer que a conclusão seja falsa, mesmo que as premissas sejam verdadeiras. Neste caso, o argumento é inválido, isto é, não existe uma relação lógica entre as premissas e a conclusão. Por exemplo, se alguém diz: "Tenho um saco com 15 bolas de gude, todas verdes. Se você tirar uma bola qualquer ela será verde.", isto é um argumento válido, já que se todas as bolas no interior do saco são realmente verdes (a premissa), isto garante que qualquer bola retirada será verde (a conclusão). Note que a validade do argumento é independente da veracidade ou não da premissa. A pessoa pode estar mentindo e ter colocado bolas azuis no interior do saco. Imaginemos por outro lado que a pessoa diga "Tenho um saco com 14 bolas verdes e 1 bola azul. Se você tirar uma bola qualquer ela será verde.". Neste caso, o argumento é inválido, porque mesmo que exista uma grande chance da bola retirada ser verde, isso não é garantido.
Portanto quando nos deparamos com uma onformação que é considerada verdadeira OU falsa, devemos verificar se o argumento utilizado é válido e se as premissas do argumento são verdadeiras. isto pode serresumido com:

  •  "Se existe uma cadeia de argumentos, cada elo da cadeia deve ser válido - não apenas alguns deles." 
Se, por outro lado, a cadeia de fatos é restrita, e a informação lhe é dada, então deve haver uma forma de comprovar a veracidade da informação por outros métodos ou por outras vias que não pela pessoa que lhe forneceu a informação. Então:

  • "Sempre que possível deve haver uma confirmação independente dos 'fatos'"
Para que uma idéia seja consistente, ela deve passar por testes. Devemos ser céticos em relação a QUALQUER informação, mesmo aquelas mais óbvias. Devemos nos questionar, colocar nossa teoria à prova, tentar derrubá-la! Se ela sobreviver aos teus ataques, então serão grandes as chances de que ela esteja mais próxima da verdade. Resumidamente:

  • "Crie mais de uma teoria. Pense em todas as formas pelas quais o fato em questão pode ser explicado. Então pense em formas de derrubar sistematicamente cada uma das alternativas. A teoria que sobreviver a esta 'seleção natural' tem maiores chances de ser a correta."
Mas sempre existe a possibilidade de você não ter pensado em algo, e justamente este algo ser responsável por levar abaixo a sua teoria. Então debater com pessoas inteligentes e que fazem uso deste método são valiosos aliados para debates benéficos.

  • "Promova uma discussão abrangente sobre as evidências com defensores (bem informados) de todos os pontos de vista"
Entretanto devemos tomar cuidado com "autoridades". É comum pessoas com alto poder político tenderam a defender suas idéias, e isto pode ser verificado no dia-a-dia. Estas pessoas tendem a impor suas idéias através do autoritarismo, e nós tendemos a aceitá-las por respeito, medo ou receio. Isto vai contra o método!

  • "Argumentos oriundos de 'autoridades' têm pouca importância - 'Autoridades' cometeram erros no passado e o farão de novo no futuro. Em outras palavras, não existem autoridades, existem, no máximo, especialistas."
A sua teoria, por melhor que esteja, deve, de alguma forma, poder ser verificada. Caso contrário você terá apenas uma cadeia de fatos lógicos, mas que não são embasados em realidade testável. Por isso a teoria deve poder ser posta à prova na prática. É claro que, se puder QUANTIFICÁ-LA, terá mais facilidade para testá-la e refiná-la. Ninguém quer uma teoria ou um argumento fraco, que pode ser derrubado facilmente.

  • "Sempre verifique se a teoria pode ser testada. Teorias que não podem ser testadas têm pouco valor."
  • "Quantifique sempre que possível. Aquilo que é vago e qualitativo é aberto a muitas explicações."
E, por fim, por mais que sua teoria seja robusta e verdadeira para você, tente continuar na sua razão e não se apegue demais a ela. Sempre existe a possibilidade da teoria estar errada, e devemos ouvir e dialogar sempre que possível. Idéias simples caem o tempo todo, e idéias fortes, por mais que demorem, tendem a cair também. Até nas ciências exatas como na Física podemos verificar estes fatos.

  • "Não se apegue demais à sua própria teoria. Busque razões para rejeitá-la. Se você não fizer isto,outros o farão."
De todas as colocações acima, quando digo "teoria", falo da mais simples até as mais complexas. notícias de jornais, receitas da vovó, teorias científicas refinadas, dicas de amigos, e-mails, "grandes oportunidades", etc... este método serve sempre!

Isto é, no fim das contas, praticar o ceticismo.

Quando podemos aplicar estes testes?

Um exemplo ilustrativo serve bem para demonstrar quando este método é útil:
Texto retirado na íntegra da página ( http://www.projetoockham.org/ferramentas_metodo_6.html )

Um amigo lhe diz que descobriu um dragão na garagem da casa dele.

"Uau, isso é incrível! Vamos lá vê-lo!" você diz entusiasmado, já pensando nas manchetes dos jornais.
"Bem... isso não vai ser possível porque ele é invisível."
"Você fala sério?!", mas seu momentâneo desapontamento é logo substítuido por uma excitação ainda maior, afinal você sabe que um dragão invisível é ainda mais incrível que um dragão qualquer."A gente joga tinta nele então. E depois tiramos umas fotos."
"Ahhh? Tinta? Bom... isso também não vai dar, pois este dragão é incorpóreo."
"Incorpóreo?!!"
"Sim, incorpóreo, tipo um fantasma ou um ectoplasma."
"Mas este dragão solta fogo? Pelo menos isso?"
"Sim, soltar fogo ele solta! Se bem que o fogo é invisível também."
"Tá, não tem problema, a gente usa um visor de infravermelho pra ver este fogo invisível."
"Mas o fogo deste dragão é um fogo frio, que está à temperatura ambiente, não vai dar pra sentir..."
"!!"

Você propõe mais uma dúzia de maneiras de detectar o dragão e seu amigo refuta todas elas dizendo que com este dragão não vai funcionar. Você começa a perder a paciência e, além de um pouco preocupado com a sanidade do seu amigo, fica imaginando qual a diferença entre um dragão que não pode ser detectado de nenhuma maneira e dragão nenhum:"Então como você sabe que há realmente um dragão lá?!"

Seu amigo responde a esta pergunta com explicações confusas que misturam capacidade de se comunicar telepaticamente com o dragão, técnicas ancestrais milenares de detecção de dragões (provavelmente orientais), instrumentos exóticos capazes de medir a "energia" de dragões, uso da intuição, revelação em sonhos, etc, e encara o seu ceticismo como má-vontade em crer neste maravilhoso dragão-invisível-incorpóreo-que-cospe-fogo-frio.

Esta história é uma adaptação livre de um trecho do livro "O Mundo Assombrado pelos Demônios" de Carl Sagan e ilustra o típico pensamento pseudocientífico. De fato você não precisa ir muito mais longe para, usando a mesma analogia, imaginar pessoas que preveêm o futuro inspirados por dragões indetectáveis, ou que dizem curar usando a energia destes seres. Estas pessoas provavelmente acusarão os cientistas que não querem crer na existência de seus dragões de estreiteza de pensamento ou dirão que eles se negam a encarar as evidências porque temem que elas abalem sua forma ortodoxa de pensar. Muitos torcerão um pouquinho a história e se compararão a Galileo e a Colombo que foram perseguidos por desafiarem o pensamento científico estabelecido: "Riram de Galileo e de Colombo e riem de nós", dirão (ao que Carl Sagan acrescentaria: "riram do Bozo também, e daí?"). 

Claro, alguns cientistas tentam assim mesmo detectar este dragão, afinal descobrir que dragões podem estar escondidos em garagens pelo mundo e que podem ser usados para curar e prever o futuro é uma descoberta extraordinária demais para ser ignorada. Mas mais importante do que isso: não é só porque a ciência não é capaz de detectar o dragão que ele não existe. Germes, partículas atômicas e subatômicas, quasares, variações no espaço-tempo - pode-se citar inúmeros exemplos de fenômenos que num determinado momento da história não foram ou não poderiam ser detectados pelas técnicas e instrumentos disponíveis mas que não deixaram de existir por isso. Investigar portanto é preciso.

Mas este dragão tem um problema de timidez. Ele só aparece para algumas pessoas "escolhidas" e nunca diante de câmeras. Todas as evidências de sua existência ou são contestáveis ou não vêm de fontes confiáveis ou podem ser explicadas por fatos já bem conhecidos pela ciência; mágicos conseguem reproduzir tudo o que as pessoas dizem fazer usando a energia dos dragões. Por fim as previsões feitas por pessoas "guiadas" pelos dragões são menos acertadas na média do que as previsões feitas por profissionais e o número de curas feitas pela tal energia do dragão é equivalente ao das curas espontâneas ou por placebo.

A conclusão é que por mais que a ciência investigue o fenômeno não há evidências, ordinárias nem extraordinárias, obtidas através de um rigoroso método científico que suportem a existência do Dragão Invisível. Por isso, para a ciência pelo menos, ele é finalmente esquecido.

Não pense que dragões indetectáveis são exclusividade dos pseudocientistas. A ciência já teve que lidar com seus "dragões". Até o final do século XIX os físicos acreditavam na existência de uma substância chamada éter que preencheria o vácuo e que seria o meio no qual se propagariam a luz e as ondas gravitacionais, muito embora ninguém ainda o tivesse detectado. Este éter deveria ser de tal natureza que não interferisse no movimento da Terra através dele e que permanecesse inalterado e imóvel ao ser atravessado pela luz. Isso o tornava por definição extremamente dificil de ser detectado. Em 1881 Michelson e Morley idealizaram uma cuidadosa, e hoje famosa, experiência para tentar "capturar" o éter, porém nada foi observado. Alguns imaginaram falhas na experiência, mas outros começaram a desconfiar que não haveria éter nenhum para ser detectado. O éter continuou a ser perseguido utilizando-se técnicas mais avançadas e instrumentos mais precisos, sempre com os mesmos resultados, até o ano de 1960, quando foi definitivamente descartado.


Concluímos, por enquanto, que o método de pensamento crítico é útil e que pode ser aplicado nas mais diversas situações, sempre que a teoria é falseável.

Meu próximo post conterá condutas que devemos tomar para não cometermos erros e para detectar erros em teorias, sejam nossas ou de outrem.

Vamos juntos tomar a pílula vermelha! (referência a Matrix).

Quando não é Quantificado

Se eu fosse votar na minha enquete, ao seu lado direito na tela, eu votaria "SIM".
Mas tem hora que não é possível ser quantitativo sempre. Para mim a quantificação do problema o traduz para uma linguagem lógica com consequências mais imediatas e, portanto, com soluções mais imediatas. Mas nem tudo pode ser quantificado. O que fazer, então?

Bem, nestes casos, e também nos casos cuja quantificação é válida, é sempre útil fazer uso da ferramenta "pensamento critico", uma forma de pensar, uma ferramenta para a mente, que cataliza, e em alguns casos torna possível chegarmos a conclusões mais inteligentes e verdadeiras, dentro do aspecto lógico-científico, e nunca naquele baseado na fé, moral e estas outras coisas mais pessoais.
Esta ferramenta é uma série de passos que devemos usar para conseguir separar utilidades de inutilidades; valores de pobrezas; obviedades do despendioso; lógica de mística...

Muitas vezes nos deparamos com problemas, e problemas, por mais que possam ter soluções, nem sempre são imediatas, ou óbvias. Pior ainda quando tendemos a piorar a situação por fazer uma análise por um caminho tortuoso, aumentando a possibilidade de erro. O uso deste método ajuda neste caso.

Tenho em mente que uma discussão é útil e sadia quando todas as partes são beneficiadas e crescem como indivíduos pensantes, como cidadãos. Mas isto só é possível se todas as partes, ou a maior parte delas, souber dialogar, souber encaminhar a conversa passo-a-passo, por meio de argumentações lógicas que cuminem na conclusão final, sem que, necessariamente, haja concordância no final.
Esta ferramenta também ajuda neste sentido.

Ora, tamanha utilidade não pode ser ignorada! Vivemos no século da informação. A informação, em sua grande parte, é livre e facilmente acessível, e as pessoas que ignorarem este fato tão evidente sofrerão consequências graves, e farão parte da "grande massa" deste século, enquanto pessoas que souberem aproveitar toda esta informação certamente terão uma chance de sucesso muito grande. Isto é visível em pequenas idéias que tornam-se mega-empresas como google, facebook, ebay, apple, microsoft, youtube, etc. Mas nem precisa tanto. Quem tem acesso à informação e sabe distinguir o joio do trigo e ainda sabe como averiguá-la, questioná-la e melhorá-la, certamente terá seu lugar garantido nesta nova era, a era da informação.

Os próximos posts tratarão deste assunto, e tenho certeza que se lerem com cuidado e se se questionarem honestamente sobre o assunto irão agregar valores que podem fazer a diferença para toda a vida.


Primeiramente reitero que trata-se de um método, mutável, e funciona como uma ferramenta para enriquecer a informação de real valor. Deve, portanto, ser treinada. Nenhum proveito será tirado se não houver um esforço neste sentido. Isto é o mínimo que se espera de alguém que quer sucesso.

É importante que se tenha noção báscia de estatística teórica... daquela bem banal. Como exemplo ilustrativo: se eu jogar um dado de 100 lados para o alto muitas vezes, o número 1 aparecerá 1/100 vezes, quanto mais vezes eu jogar o dado. É imortante verificar que isto serve para grandes populações, não em todos os casos, mas em muitos deles.

As informações que postarei em grande parte serão de referência ao site http://www.projetoockham.org/ (um excelente site que, infelizmente, não é mais atualizado). Mais da metade do que será postado aqui pode ser aprendido lá, e a leitura é recomendada!

Espero que aproveitem os próximos posts, sempre com crítica e ceticismo!

Sentido da palavra ceticismo que tenho usado e continuarei usando: Forma de pensamento que tem como vertente a defesa lógica e argumentativa para interpretar, reinterpretar, analisar, aceitar, negar, embasar ou qualquer outra razão de linha lógica-estatística, para qualquer tipo de inforamção.