quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Crítica à Universidade Gratuita

A "Universidade de qualidade, gratuita e para todos" (slogan comum de movimentos "estudantis"), seria o ideal. Mas isto não cabe.
Primeiro que uma universidade de qualidade depende de aspectos diversos, que serão discutidos aqui, mas que não são praticados atualmente. Segundo que o fato dela ser gratuita não implica em algo benéfico à priori; esta afirmativa de cunho comunista não tem embasamento forte para prevalecer, e dicutirei isto também. Em terceiro lugar "para todos" significa exatamente o que? Todos devem fazer faculdade?

Bem, vamos começar pelo começo: Uma universidade de qualidade só faz sentido se, além de formar profissionais altamente qualificados, formar também cidadãos altamente qualificados.
Como o objetivo deste blog é QUANTIFICAR sempre que possível, partirei para as vias financeiras e econômicas, observando as consequências sociais. Esta é a melhor forma de se avaliar as afirmações que farei.

O dinheiro do contribuinte é utilizado nas universidades públicas. para simplificar e tentar ser mais correto (é só o que eu conheço) limitar-me-ei às universidades estaduais do Estado de São Paulo.
Estas universidades recebem dinheiro do ICMS.


Em São Paulo este montante representa 9,57% do ICMS total.
A arrecadação do ICMS do Estado de São Paulo em 2007 foi de R$63.188.439.189,12

Deste montante a Universidade de São Paulo utilizou R$2.015.185.198
Fonte: http://www.usp.br/codage/Tabela%20A.pdf (arquivo PDF do site: http://www.usp.br/codage/Orcamento%202008.htm )
DOS QUAIS 86,4% foram gastos em FOLHA DE PAGAMENTO de funcinários (vide PDF anterior)!!!
Isto mesmo, 86,4% do ICMS destinado à USP vai para o bolso dos funcionários!

Bem, como não bastasse a maioria dos funcionários da USP são concursados. Isto significa que eles não podem ser demitidos. Qual a implicação disto? Bem... uma crise econômica está chegando aí, e é provável que a arrecadação do ICMS, baseada no consumo, diminua bastante. Com esta diminuição teremos também uma diminuição da arrecadação das universidades estaduais, e por consequência haverá necessidades de cortes.
Bem, de onde cortar? O "Sr. Porteiro" que prestou concurso há 20 anos e está no mesmo cargo desde aquele tempo hoje está recebendo o teto do salário da função dele, o que faz com que ele mantenha uma vida estável e confortável. Como não há concorrência por cargos, ele fica lá, e tudo bem. Ora, a crise está chegando, maso Sr. Porteiro não está tão preocupado: o salário dele não vai baixar e ele não pode ser demitido!
Bem, se não vamos tirar dinheiro dos "Srs. Porteiros", tiraremos de onde? Da pesquisa, da infra-estrutura, dos equipamentos, etc...
JUSTO? Claro que não...

Então temos uma porcentagem absurda de dinheiro sendo mal gasto nas universidades estaduais paulistas (as outras seguem a mesma linha, ou estão caminhando rapidamente para isto), e teremos cortes em setores que não poderiam parar, tudo para que o Sr. Porteiro fique feliz. Grande luta dos sindicatos, não?!
E o sindicato continua atuando:

"PRÊMIO...finalmente as respostas!

A Comissão de Negociação da Pauta Específica do Sintusp em reunião com a Reitoria no dia 25 de novembro (3ª feira), antes de entrar na pauta da reunião afirmou ser um absurdo que até então não tenha sido definido o valor e a data de pagamento das 2 parcelas do “prêmio excelência acadêmica institucional USP” aprovado pelo CO (Conselho Universitário). Somente após horas de discussão sobre este e os outros itens da pauta, arrancamos a definição do valor: R$ 1.000,00, sendo a 1ª parcela de R$ 500,00 paga até a 1ª semana de dezembro e a 2ª também de R$ 500,00 no 1º semestre de 2009 (sem data definida). Esta definição foi confirmada pela Sra. Luiza Esperença Barbosa, da Divisão Financeira da USP."

Vejam.. este prêmio foi dado porque a USP se auto-declarou uma "Instituição Excelente". Que lindo, não? Mais narcisístico impossível (que nojo disto).

Mas eles não estão satisfeitos. Para saber mais deste circo leia na íntegra (e vejam as outras pérolas) na Fonte: http://www.sintusp.org.br/ 

Como uma universidade pode ser "de qualidade" se a base financeira está distorcida?!

Além disso os alunos que são formados na USP são, em geral, de poder aquisitivo alto: 58,6% ganha mais do que R$3000 de renda familiar mensal, e 21,5% ganha mais do que R$7000!


Fote: http://www.fuvest.br/scr/qasen.asp?anofuv=2007&fase=3&carr=0000000TOT&quest=17&tipo=3&grupo=1

Bem, não obstante isto tudo a prática (desculpem-me, desta vez não será quantitativo) me mostra que os alunos da USP (em especial, mas suponho que nas outras seja a mesma coisa) são formados profissionais, mas não cidadãos completos. Eles saem da universidade tendo alta carga de conhecimento (ou pelo menos deveriam), porém sem conhecimento dos problemas socio-econômicos gerais da sociedade. Como poderiam ajudar, então?

Bem, agora vamos pensar: A maior parte do ICMS das universidades vai para funcionário, e o que sobra vai para os alunos que, por estarem nestas universidades, são, em geral, muito ricos.

De onde sai o ICMS mesmo? A, sim... consumo. Bem, nós sabemos que um rico que ganhe R$7000 de renda familiar e compra arroz pagará o mesmo ICMS que o pobre que ganha R$500 (1,8% das pessoas que entraram na USP em 2007. Vide fonte acima). Sendo assim, quem mais sofre bancando o ICMS para pagar funcionários e, com o que sobrar, tentar fazer a universidade andar, é o pobre.

É isto mesmo. O pobre paga mais ICMS (sente mais no bolso) para que ricos estudem em uma universidade de qualidade (?).

Sendo que as pessoas que se formam nestas universidades geralmente tem como único benefício social a ocupação de um cargo de alto nível em uma empresa privada ou estatal (o que não deixa de ser um retorno para a sociedade, mas só isto já basta?), eu receio que isto não esteja valendo a pena. Sequer um retorno social evidente de tanto dinheiro empregado por pessoas pobres para os ricos é obtido.

Qual seria a solução? Na minha opinião o universitário deveria retornar para a sociedade o investimento, ou então não onerá-la! Para não onerá-la a medida é simples: Universidade gratuíta NADA! Quero é UNIVERSIDADE PAGA! Assim a sociedade não teria de despender grande parte do seu esforço de trabalho para formar ricos que sequer trarão grande benefício social, senão para eles mesmos.

Mas e as pessoas pobres que entram na universidade? Bem, para elas haveria duas possibilidades imediatas: Ou o governo daria subsídio, isentando-as da mensalidade (ou diminuindo-a), ou estas pessoas deveriam prestar serviços por um tempo determinado para o estado após se formarem (ou enquanto fizerem faculdade, ou ambos). Os gastos para isto não seriam muitos. De tudo que foi arrecadado pela USP apenas R$77.829.658 foi a estimativa de investimento em "permanência estudantil" para 2008, e foi o suficiente.

Fonte: http://www.usp.br/codage/Orcamento%202008.htmTabela I

Agora, "universidade para todos"? Quando eu entender o que isto significa eu discutirei com prazer.

Sejamos racionais e quantitativos.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Saída Dourada

Bem, como vimos, se eu estiver correto, o dólar vai passar por este período de forte valorização, e depois passará por um período de forte desvalorização (deflação para pagar as dívidas e inflação para retomar o crescimento). Todavia o Brasil não pretende deixar o dólar passar dos R$2,50 tão cedo, pois isto causaria colapso em diversas empresas brasileiras (careço de fontes jornalísticas).
A pressão do dólar fez com que o Brasil gastasse boa parte da reserva:

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Governo já injetou mais de R$ 150 bi contra a crise financeira

Valor leva em conta leilões de dólar e linhas de empréstimos a setores como comércio exterior e construção

" Segundo dados divulgados nesta segunda-feira pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o BC injetou US$ 46,5 bilhões (R$ 106 bilhões, pela cotação de sexta-feira) na realização de leilões de dólares e na venda da moeda no mercado à vista, além de empréstimos voltados a linhas de comércio exterior. Nas últimas semanas, o governo já havia gasto cerca de R$ 70 bilhões para ajudar a restabelecer o crédito em outros setores"

"Dentre as operações citadas por Meirelles, ele enfatizou que a injeção de dólares à vista no mercado é a única que afeta as reservas internacionais, mas que, apesar disto, elas ainda são superiores a US$ 200 bilhões"

Fonte: http://www.estadao.com.br/economia/not_eco278940,0.htm


Tudo isto é muito difícil de quantificar, mas a expectativa é a de que, num cenário novo (ruim?) o dólar perdesse o seu valor quase que inteiramente, podendo até mesmo deixar de ser moeda-lastro.
Previsões assim, apesar de impactantes, são compartilhadas por pessoas de gabarito (especialistas):

4/06/2007 - 23h02
Nobel de Economia prevê desestabilização de reservas em dólares

"Buenos Aires, 4 jun (EFE).- O prêmio Nobel de Economia Joseph
Stiglitz previu na segunda-feira uma "desestabilização" no sistema mundial de reservas monetárias em dólares e afirmou que "o mundo estaria melhor" com a migração para uma "divisa global" que, na sua opinião, também não deve ser o euro."


"(...)Na raiz do problema está o sistema de reservas em dólares. O mundo estaria melhor mudando para uma divisa global de reserva. O atual sistema é essencialmente insustentável", sustentou o prêmio Nobel."

"Além disso, observou que as nações em desenvolvimento estão emprestando aos EUA trilhões de dólares a uma baixa taxa de juros, o que considerou uma "forma de ajuda externa que os países pobres dão à economia americana" e que é "de uma magnitude maior que a ajuda dos EUA aos países em desenvolvimento"

"Mas para Stiglitz a solução também não está no euro como divisa global de reserva. "A Europa teria o mesmo problema, o alto preço que é preciso pagar para obter empréstimos baratos", afirmou.


Ou seja, é possível (provável?) que o dólar perca o mérito de lastro após esta crise, e não seria o euro, na opinião de Stilitz (nem na minha) a tomar o seu lugar.
Quem seria, então? Bem, na minha opinião seria o ouro, que RETOMARIA o seu papel de lastro, já que representa uma MOEDA DE TROCA com VALOR REAL, sendo impossível "imprimir ouro".
E não sou apenas eu quem acredita nisto:

Iran Converts Some Foreign Reserves to Gold
"The papers published Saturday did not say how much of Iran's estimated $120 billion in reserves were converted into gold. Iranian officials could not immediately be reached for comment."

The G-20’s Secret Debt Solution
by Larry Edelson   11-13-08

"Behind the scenes, a far more fundamental fix is being discussed — the possible revaluation of gold and the birth of an entirely new monetary system."

"To end the Great Depression in 1933 Franklin Roosevelt devalued the dollar via Executive Order #6102, confiscating gold and raising its price 69.3%, effectively kick starting asset reflation."


Mint suspends orders amid rush to buy bullion
FEARS of the unknown long-term effects from the global financial crisis have sparked a new gold rush.

"With retail and wholesale clients around the world stocking up on the precious metal, the Perth Mint has been forced to suspend orders.(...)"
"(...)He said Europe was leading the demand, with Russia, Ukraine, Middle East and US all buying -- making up 80 per cent of its sales. One European client purchased 30,000 ounces for $33 million.(...)"
"(...)We have never seen this before and are working right at capacity. And we are seeing it from clients in the shop buying one ounce, right up to 30,000 ounces from overseas clients," Mr Currie said.(...)"
"The rise in demand for gold bars and coins has been impressive," he said"

Bolsa é o pior investimento pelo quarto mês; dólar e ouro lideram ganhos
30/09/2008
"A variação do dólar comercial foi de 16,45% no mês de setembro. No caso do ouro, aplicação bem mais restrita, a valorização foi de 22,5%, tendo como referência a cotação da commodity negociada na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros)."

Ouro é aplicação mais rentável em novembro
29 de Novembro de 2008
"O ouro liderou com folga o ranking de investimento em novembro, com valorização de 13,33%. Em seguida, aparece o dólar comercial, com alta de 7,33% no período, e o dólar paralelo, 6,17%. "

Nós, jovens brasileiros, tendemos a acreditar que as coisas acabam se acertando, e que nada de muito ruim poderia acontecer, que isto é coisa dos livros de história. Mas basta uma conversa com nossos avós para percebermos que a coisa não é bem assim. Livros de história são repletos de passagens quantitativas acerca de desastres econômicos mundiais, e eles são repetitivos. Porque não poderia acontece na nossa época? E, aceitando que isto pode acontecer, porque não poderia ser agora, justamente quando a coisa está realmente feia?
Uma rápida passagem nos jornais mostra que instituições financeiras centenárias estão falindo nos EUA, bem como a fortíssima indústria automobilística.

Se for para se preparar para o pior, existiria um melhor momento?
Quem vai pagar para ver?

Novos passos dos EUA

Com a crise evidente os EUA tem de se safar.
O fato é que a dívida interna é imensa (vide tópico anterior), e que as empresas e cidadãos não tem este dinheiro. O que fazer?
Bem, em cenários como estes existem duas possibilidades catastróficas imediatas:
  1. Deflação
  2. Inflação
  • A deflação faz com que o valor do papel moeda aumente, e isto tem como causa o medo.
O cidadão sabe que está vivendo em época de crise, e que o consumo está caindo. Ele não quer acabar com o restante do patrimônio líquido dele, então ele investe, ou apenas guarda seus dólares. Fazendo isto ele deixa de consumir, então as empresas vendem menos. Mas as contas devem ser pagas, então as empresas baixam os preços e cortam funcionários (vide post anterior, com o corte da Vale. Existem mais inúmeros exemplos). Cortando funcionários existem mais pessoas que guardam o dinheiro que sobrou, e menos gente consumindo, e as empresas começam a quebrar, aumentando ainda mais o desemprego, que bate índices alarmantes: 

EUA: taxa de desemprego deve subir a 7,5% em 2009, conforme pesquisa da NABE
"Dessa forma, a expectativa é de que o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA recue 2,6% no quarto trimestre, desempenho muito pior do que os dados preliminares do governo norte-americano mostraram no terceiro trimestre deste ano, quando o PIB do país caiu 0,3%. Para o primeiro quarto de 2009, a previsão é de contração de 1,3%."

O efeito deflacionário faz com que as mercadoreias percam valor (na verdade o dólar está ganhando valor). Com o dólar em alta os outros países (as empresas destes outros países) correm para quitar ou diminuir as suas dívidas lastreadas em dólar (a maior parte delas). Para isto as empresas vão a mercado comprar dólar, o que força o preço ainda mais para cima.
Bem, as empresas dos EUA tem dólares, e o dólar deles está se valorizando. Assim eles conseguirão, aos poucos, ir pagando as dívidas internas e externas.
Ou seja, os outros países estão fortalecendo o dólar para que os EUA paguem a própria dívida!
Mais uma vez o mundo está bancando a conta! COMO NÓS SOMOS LEGAIS!

Mas, como foi dito, o desemprego aumenta, a produção cai e a economia cai junto. Eles pagam as dívidas, mas perdem os empregos. Como resolver?
Bem... assim:

  • A inflação tem efeito contrário ao da deflação, ou seja, ela faz com que a moeda perca valor. Num mercado inflacionário os insumos aumentam de preço constantemente, e a moeda perde cada vez mais valor.
Bem, imagine os EUA com o dólar valorizado, pagando as dívidas e morrendo economicamaente. O que fazer? Talvez pacotes de bilhões de dólares reanimem a economia! Primeiro 700, depois 800 bi...
Se os EUA conseguirem pagar grande parte das dívidas com o dinheiro dos outros países, mesmo caindo economicamente, a forma de reanimar a economia é aquela usada há pelo menos 100 anos: injetando capital (New Deal, o retorno). Assim eles reanimam a economia, gerando empregos e fluxo de dinheiro. A inflação causada seria compensada pela deflação anterior, pelo menos em teoria.. MAS ISTO NÃO É QUANTITATIVO.

Isto significa que se eles errarem a mão, ou então se os outros países tiverem problemas (ou forem mais espertos), então o castelinho de areia desaba! Haveria ou um cenário de deflação irreversível, acabando com a economia dos EUA e, consequentemente, do resto do mundo; ou então haveria hiper-inflação, acabando de vez com o dólar.

Agora o que temos a fazer é nos prepararmos para qualquer um dos possíveis cenários: Reanimação dos EUA, deflação ou inflação.
Estes assuntos serão discutidos nos próximos posts.



Crise Financeira no Brasil

Inicialmente nosso querido e "sensato" presidente disse que teríamos uma "marolinha" no lugar de uma crise, e que se fosse no passado teria sido um "Tsunami". Bem, mas levemos em consideração que "até" o Ben Bernanke, presidente do FED, subestimou a situação: 

Washington Post Staff Writer
Thursday, October 27, 2005; Page D01

"Ben S. Bernanke does not think the national housing boom is a bubble that is about to burst, he indicated to Congress last week, just a few days before President Bush nominated him to become the next chairman of the Federal Reserve"

O fato é que o Tsunami chegou.
Os impactos começaram sobre o câmbio, com o fortalecimento do dólar (que será discutido em breve) - vide cotação do dólar no final desta página -, e agora atinge o crescimento econômico brasileiro, que teve as estimativas reduzidas drasticamente:

PIB do Brasil pode crescer só 0,5% em 2009 em cenário pessimista, diz ONU
"(...)Num cenário otimista, o crescimento brasileiro seria de 3% em 2009, segundo o relatório. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reviu a previsão de crescimento da economia brasileira para o ano que vem de 6% para 4%.(...)"

Agora temos ameaça de falência de grandes empresas no ramo automobilístico, com uma tentativa de reânimo por parte do governo. Hoje a Vale anunciou demissões e férias coletivas, e anteriormente já havia anunciado redução na produção.

Bem, hoje sabemos que a crise está aqui.

O intuito deste blog não é reproduzir notícias já vinculadas no setor econômico, portanto paro por aqui.
O resultado futuro é que nos interessa, além das medidas que poderíamos tomar para nos antecipar. Este será o tema dos próximos posts.

Resumo das medidas tomadas pelo Brasil feita pela Folha de São Paulo:

Crise Econômica

A atual crise econômica tem origens no sistema semi-liberal dos EUA. Notícias sobre isto são vastas, e o sistema (a queda dele) pode ser resumido da seguinte forma:

  1. O sistema é baseado na rotatividade do capital
  2. Para isto é necessário consumir
  3. O consumo gera empregos, que gera riqueza, que gera bens, que gera consumo, que gera emprego...
Bem, vamos supor que você tenha uma casa própria. Você quer ganhar dinheiro (quem não quer?) e percebe que os juros para financiamento da compra de uma casa está baixo (por medidas do governo). Então você toma dinheiro emprestado a baixos juros, e para cobrir parte do risco hipoteca a sua casa. Ou seja, você bota em risco a sua casa para comprar outra. E porque não? Os juros são baixos, então você conseguirá pagar e ter duas casas no final das contas.
Bem, agora você tem duas casas, mas mora em uma e quer dinheiro. Então você vende a sua casa extra, mais caro do que comprou, é claro. O resultado é uma bolha no mercado imobiliário (subprime, ou seja, empréstimos para compra imobiliária para pessoas de alto risco):

                                              Gráfico 1Ora, como as pessoas hipotecavam as casas delas ficava fácil inflar ainda mais esta bolha, levando as famílias a um grau de endividamente nunca dantes visto:

                                             Gráfico 2
Bem, com tanto dinheiro no mercado imobiliário, sendo os bancos os credores, e sendo estes "especialistas" em ganhar dinheiro, então porque não usar a dívida "a receber" em títulos que podem ser emitidos no mercado financeiro para receberem o dinheiro agora com promessa de pagamento futuro?
Bem, se você é um banqueiro e tem $10 para receber em 1 ano, morando nos EUA você pode fazer um título que vale $9 (90% do valor) e emitir no mercado. Assim um superavitário paga $9 pra você hoje e espera receber $9,1 no final do ano.
Mas você pode vender este título que vale $9 para um outro banco. Este outro banco pode emitir um título deste título, com 90% do valor.

Bem, aí o buraco vai ficando fundo...

O tempo passou, e como pode ser visto no gráfico 2 a dívida se tornou tão grande que o risco de se emprestar mais dinheiro ficou realmente grande. O que fazer? Restringir os empréstimos!

Desta forma o cidadão que estava esperando hipotecar mais uma casa para pagar a anterior não conseguiu fechar o contrato, e deu calote em diversos bancos a respeito de diversas casas. A solução seria, então, pegar a casa dele e vender, quitando a dívida. Mas os títulos emitidos ao mercado sobreram um "esticamento", e a hipoteca de $10 virou um título de $9, outro de $8,1, e outro de $7,79... Então agora a conta não pode mais ser paga. Dá-lhe crise.

Como os detentores destes papéis eram todo e qualquer tipo de investidor "arrojado", então toda a economia sofreu colapso.

Bem, os resultados são catastróficos e serão discutidos pouco a pouco.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um mundo melhor é quantitativamente possível?

Com a atual crise econômica mundial temos a oportunidade de rever os antigos comunistas, socialistas e, mais recentemente, os "neo-socialistas". Pelo que eu entendi os neo-socialistas defendem que a riqueza seja mais bem distribuída, mas deixam de lado as utopias típicas anteriores, pertencentes aos socialistas. De qualquer forma não é deles que quero falar, mas sim da possibilidade de termos, de fato, um mundo mais igual e sustentável através do capitalismo.

A primeira questão da Fuvest (prova V) deste ano apresentou um gráfico curioso:
 
     Gráfico 1IDH: "O conceito de Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente, e também do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana."
Com a ressalva: " ... o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver". (fonte: http://www.pnud.org.br/idh/)

O cálculo do IDH leva em consideração:
  1. Índice de Esperança de Vida
  2. Índice do Grau de Instrução
  3. Índice do PIB (produto Interno Bruto)
A forma do cálculo, os pesos e as considerações podem ser vistas em: http://www.pnud.org.br/arquivos/rdh/rdh20072008/hdr_20072008_pt_complete.pdf pg. 357 e adiante.

Então a ressalva acima está correta, mas podemos pensar que um país que fornece longevidade, riqueza e educação é altamente atrativo! Então tomarei a ressalva como "estamos quantificando os países, mas por favor, não nos responsabilizem"

Bem, sabendo disto podemos voltar ao gráfico 1 e observarmos o IDH em função do CONSUMO de energia na forma de "tonelada equivalente de petróleo" (TEP), medida usada para uniformizar e tornar comparáveis medidas distintas de energia.
Uma rápida análise torna claro que países com consumo de TEP menor ou igual a 1 seguem uma tendência linear, enquanto países com TEP maior que 1 tendem a seguir uma tendência logarítmica (função raiz, na verdade), o que indica que países que consomem mais de 4 TEP tem pouca variação no IDH.

Além disso é possível observar que países com TEP muito baixo podem ter IDH alto ou baixo. Ou seja, com um gasto pequeno de energia (aprox. 2 TEP ) temos o IDH variando entre 0.4 e 0.85!

Bem, com isto só posso tirar duas conclusões imediatas:
  • Ou o IDH realmente não toma uma medida para avaliarmos o quão bom (otimizado?) o país é, fazendo com que nos enganemos ao observarmos um alto IDH e acreditarmos que este índice reflete uma qualidade maior. Ou seja, talvez o cálculo do IDH trunque (limite) a avaliação dos países super-desenvolvidos economicamente, fazendo com que a disparidade economica e social entre eles seja suprimida (exemplo: EUA e Espanha, respectivamente 12º e 13º no IDH mundial);
  • Ou temos que o gráfico é correto e um aumento no TEP não implica em aumento no IDH, ou seja, não aumenta a longevidade, não aumenta a riqueza percapta e não aumenta o nível escolar.

A primeira resposta precisa de uma análise mais cuidadosa que ainda não fiz. A segunda depende da resposta da primeira.

Bem, todavia surge a questão: se um país gasta 11 vezes mais energia que outro e possui o mesmo IDH, para onde a energia está sendo direcionada?
Novamente não tenho a resposta, mas estou disposto a consegui-la.

Agora hipóteses:
Se o gasto extra (e bota extra) de energia não aumenta o IDH, e portanto não aumenta a riqueza percapta, nem a longevidade, nem o nível escolar, então seria ele ÚTIL? Este gasto está tornando as pessoas locais mais FELIZES? Se a resposta for não (e eu aposto que esta é a resposta), então a implicação deste gasto energético, como horas a mais de trabalho, consumo exacerbado de recursos naturais, danos ao meio ambiente e etc NÃO VALEM A PENA, e, portanto, deveriam estancar este gasto extra, ou ainda direcioná-lo para países que não são tão beneficiados (na verdade pagam grande parte da conta).

Se o gasto de energia excedente torna as pessoas mais felizes na medida do gráfico (ou seja, precisa-se de muita energia para aumentar um tiquinho a felicidade do indivíduo) também não seria o caso de repensar?

Concluindo: Antes eu pensava que o capitalismo tinha características exponenciais por natureza (consumo exponencial), enquanto as reservas naturais eram lineares. Porém verificamos que quando colocamos as variáveis juntas podemos encontrar uma característica linear para TEP até 2 ou 3. E lá encontramos países com IDH 0.9!
Então, se a hipótese que eu faço estiver correta, um mundo sustentável e viável PARA TODOS é completamente possível...

...mas claro, QUANTITATIVAMENTE FALANDO...

Lista dos "TOP IDH":
PosiçãoPaísIDH
em 2005 (publicado em 2007)
Dados de 2005 (publicados em 2007)Mudança comparada a dados de 2004 (publicados em 2006)
1 (0) Noruega 0,968
1 (0) Islândia 0,968
3 (0) Austrália 0,962
4 (2) Canadá 0,961
5 (1)Irlanda Irlanda 0,959
6 (1)Suécia Suécia 0,956
7 (2) Suíça 0,955
8 (1) Japão 0,953
9 (1) Países Baixos 0,953
10 (6)França França 0,952
11 (0)Finlândia Finlândia 0,952
12 (4) Estados Unidos 0,951
13 (6)Espanha Espanha 0,949
14 (1)Dinamarca Dinamarca 0,949
15 (1)Áustria Áustria 0,948
16 (2)Reino Unido Reino Unido 0,946
17 (4)Bélgica Bélgica 0,946
18 (6)Luxemburgo Luxemburgo 0,944
19 (1) Nova Zelândia 0,943
20 (3)Itália Itália 0,941
Brasil: 70º

Para saber mais:

Os segredos da nova número 1 do IDH

Fórum debate como Brasil pode ter alto IDH