terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um mundo melhor é quantitativamente possível?

Com a atual crise econômica mundial temos a oportunidade de rever os antigos comunistas, socialistas e, mais recentemente, os "neo-socialistas". Pelo que eu entendi os neo-socialistas defendem que a riqueza seja mais bem distribuída, mas deixam de lado as utopias típicas anteriores, pertencentes aos socialistas. De qualquer forma não é deles que quero falar, mas sim da possibilidade de termos, de fato, um mundo mais igual e sustentável através do capitalismo.

A primeira questão da Fuvest (prova V) deste ano apresentou um gráfico curioso:
 
     Gráfico 1IDH: "O conceito de Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente, e também do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana."
Com a ressalva: " ... o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver". (fonte: http://www.pnud.org.br/idh/)

O cálculo do IDH leva em consideração:
  1. Índice de Esperança de Vida
  2. Índice do Grau de Instrução
  3. Índice do PIB (produto Interno Bruto)
A forma do cálculo, os pesos e as considerações podem ser vistas em: http://www.pnud.org.br/arquivos/rdh/rdh20072008/hdr_20072008_pt_complete.pdf pg. 357 e adiante.

Então a ressalva acima está correta, mas podemos pensar que um país que fornece longevidade, riqueza e educação é altamente atrativo! Então tomarei a ressalva como "estamos quantificando os países, mas por favor, não nos responsabilizem"

Bem, sabendo disto podemos voltar ao gráfico 1 e observarmos o IDH em função do CONSUMO de energia na forma de "tonelada equivalente de petróleo" (TEP), medida usada para uniformizar e tornar comparáveis medidas distintas de energia.
Uma rápida análise torna claro que países com consumo de TEP menor ou igual a 1 seguem uma tendência linear, enquanto países com TEP maior que 1 tendem a seguir uma tendência logarítmica (função raiz, na verdade), o que indica que países que consomem mais de 4 TEP tem pouca variação no IDH.

Além disso é possível observar que países com TEP muito baixo podem ter IDH alto ou baixo. Ou seja, com um gasto pequeno de energia (aprox. 2 TEP ) temos o IDH variando entre 0.4 e 0.85!

Bem, com isto só posso tirar duas conclusões imediatas:
  • Ou o IDH realmente não toma uma medida para avaliarmos o quão bom (otimizado?) o país é, fazendo com que nos enganemos ao observarmos um alto IDH e acreditarmos que este índice reflete uma qualidade maior. Ou seja, talvez o cálculo do IDH trunque (limite) a avaliação dos países super-desenvolvidos economicamente, fazendo com que a disparidade economica e social entre eles seja suprimida (exemplo: EUA e Espanha, respectivamente 12º e 13º no IDH mundial);
  • Ou temos que o gráfico é correto e um aumento no TEP não implica em aumento no IDH, ou seja, não aumenta a longevidade, não aumenta a riqueza percapta e não aumenta o nível escolar.

A primeira resposta precisa de uma análise mais cuidadosa que ainda não fiz. A segunda depende da resposta da primeira.

Bem, todavia surge a questão: se um país gasta 11 vezes mais energia que outro e possui o mesmo IDH, para onde a energia está sendo direcionada?
Novamente não tenho a resposta, mas estou disposto a consegui-la.

Agora hipóteses:
Se o gasto extra (e bota extra) de energia não aumenta o IDH, e portanto não aumenta a riqueza percapta, nem a longevidade, nem o nível escolar, então seria ele ÚTIL? Este gasto está tornando as pessoas locais mais FELIZES? Se a resposta for não (e eu aposto que esta é a resposta), então a implicação deste gasto energético, como horas a mais de trabalho, consumo exacerbado de recursos naturais, danos ao meio ambiente e etc NÃO VALEM A PENA, e, portanto, deveriam estancar este gasto extra, ou ainda direcioná-lo para países que não são tão beneficiados (na verdade pagam grande parte da conta).

Se o gasto de energia excedente torna as pessoas mais felizes na medida do gráfico (ou seja, precisa-se de muita energia para aumentar um tiquinho a felicidade do indivíduo) também não seria o caso de repensar?

Concluindo: Antes eu pensava que o capitalismo tinha características exponenciais por natureza (consumo exponencial), enquanto as reservas naturais eram lineares. Porém verificamos que quando colocamos as variáveis juntas podemos encontrar uma característica linear para TEP até 2 ou 3. E lá encontramos países com IDH 0.9!
Então, se a hipótese que eu faço estiver correta, um mundo sustentável e viável PARA TODOS é completamente possível...

...mas claro, QUANTITATIVAMENTE FALANDO...

Lista dos "TOP IDH":
PosiçãoPaísIDH
em 2005 (publicado em 2007)
Dados de 2005 (publicados em 2007)Mudança comparada a dados de 2004 (publicados em 2006)
1 (0) Noruega 0,968
1 (0) Islândia 0,968
3 (0) Austrália 0,962
4 (2) Canadá 0,961
5 (1)Irlanda Irlanda 0,959
6 (1)Suécia Suécia 0,956
7 (2) Suíça 0,955
8 (1) Japão 0,953
9 (1) Países Baixos 0,953
10 (6)França França 0,952
11 (0)Finlândia Finlândia 0,952
12 (4) Estados Unidos 0,951
13 (6)Espanha Espanha 0,949
14 (1)Dinamarca Dinamarca 0,949
15 (1)Áustria Áustria 0,948
16 (2)Reino Unido Reino Unido 0,946
17 (4)Bélgica Bélgica 0,946
18 (6)Luxemburgo Luxemburgo 0,944
19 (1) Nova Zelândia 0,943
20 (3)Itália Itália 0,941
Brasil: 70º

Para saber mais:

Os segredos da nova número 1 do IDH

Fórum debate como Brasil pode ter alto IDH


3 comentários:

Neto disse...

Não discordo do raciocínio, só desejo inserir algumas variáveis:

Se alto índice de TEP está relacionado ao alto consumo (vc parece fazer essa associação) também o estará com o PIB (numa economia simplificada consumo=produção).
Logo, EUA, por exemplo, tem idh alto graças ao consumo.
Talvez diversos fatores que tragam idh não estejam diretamente relacionados a consumo, mas com certeza estão relacionados com tecnologia.
Avanço tecnológico se dá graças a acúmulo de capital, economia de escala, e, em nossos tempos, desigualdade social (essa relação não é tão óbvia porque tem várias implicações, então qualquer dúvida voltamos a discutir).
Não é à toa que avanços tecnológicos vêm geralmente de lugares com altos pibs.
Logo, na minha opinião,a qualidade de vida aumenta para todos graças ao consumo exacerbado, ainda que de um pequeno número de pessoas.

André Gomes da Silva - 'Scientist' disse...

Na verdade eu acho que o alto consumo de TEP está relacionado com o PIB, porém não implica, necessariamente, em alto IDH. Como exemplos cito os Países Nórdicos que possuem alto IDH, porém não apresentam o consumismo dos EUA. Isto sugere que é possível que o mundo caminhe mais devagar, porém de forma mais saudável e sustentável. O que me incomoda é a fase onde o TEP aumenta mas o IDH não.

As consequências de alto TEP e IDH constante ainda não estão claras para mim, mas tenho a impressão de que isto é inevitável em períodos de crescimento econômico (China, por exemplo). Acredito também que grande parte do TEP é despendido na área bélica. Mas optei por não publicar isto enquanto não tiver mais fontes.
O avanço tecnológico é viável com um consumo fixo de energia, já que as inivações tecnológicas atingem, inclusive, as tecnologias em novas e melhores energias!

Acredito que a qualidade de vida dos Países Nórdicos sejam equiparáveis ou até mesmo melhores que a dos EUA.
Com certeza continuarei este tópico.

Obrigado pelo comentário!

Neto disse...

Volto a questão:
Técnologia é produzida quando a sobra de capital para investimento e demanda de mercado com alto poder aquisitivo.
Toda tecnologia é desenvolvida buscando-se lucro.
Então só é possível desenvolvêla em ambientes extremamente consumistas. Não é à toa que os eua produzem tanta tecnologia!